Lapinha da Serra - MG - Junho/2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quem lucra com o pânico?



É pouco provável que nós, sociedade, imprensa, partidos e outros entes saibamos, de verdade, as causas dos ataques perpretados na capital do RJ.

É pouco provável que exista uma só causa, pois um tema tão complexo como a violência e a criminalidade não podem ser resumidos a três ou quatro frases de manchetes ou 2 minutos de editoriais televisivos.

Mas cada parte da sociedade, a seu modo, e devido a seus interesses, vai procurar respostas, que quase sempre serão incompletas, quando não totalmente equivocadas. Aqui, na questão da segurança pública, o melhor é saber fazer as perguntas certas.

Quem sabe assim possamos escapar a lógica que nos domina há tempos, de procurar "culpados", ou "inimigos números 1", para encaixar a perspectiva que apenas serve para manipular a opinião pública, e cumprir os desígnios obscuros de algumas agendas políticas.

Não se trata de síndrome da conspiração, ou de reeditar o "roteiro tropa de elite 2".

Mas se há uma virtude no olhar arbitrário(atenção: isso não é uma crítica do filme) do diretor em relação a temática: polícia-crime-sociedade, foi lançar luz sobre a zona cinzenta dos poderes e como a sociedade legitima práticas que depois se voltam contra ela mesma.

Esse é o caso que assistimos na tela da vida real. É possível que aja uma coordenação de ações de reação de criminosos a política de segurança pública do governador? Sim, é possível, mas pouco provável. Primeiro, é preciso desmontar o mito de que tráfico de drogas, EM SUA ESCALA DE VAREJO (bocas nos morros), é crime organizado.

Não é, nem nunca foi até agora. Pode ter certo domínio territorial, as "bocas" funcionam com certa hierarquização e divisão de tarefas, e assédio das forças policiais com a corrupção, o popular "arrego".

Mas nada que permita encaixar esses eventos na estrutura de crime organizado, com infiltração no aparato estatal, nos eixos decisórios, como fizeram o Jogo do Bicho, a máfia dos caça-níqueis e agora, as milícias.

O nível de organização do tráfico se restringe a sua esfera "atacadista". Lá não há disputas, o sangue não transborda das telas e jornais, nem choca a opinião pública. Onde há guerra, não há estabilidade e organização.

O tráfico não se organiza porque ainda não se legitimou como atividade paralegal, como fizeram os bicheiros nas Escolas de Samba, clubes de futebol, etc, e as milícias nas esferas de poder parlamentar e executivo, com sua escalada eleitoral e política.

Na verdade, historicamente, quem "organizou" o tráfico foram as polícias, imprensa e sociedade.

A polícia porque não dava conta de combater o problema em onde era necessário (lavagem de dinheiro, tráfico de armas e redes internacionais de distribuição atacadista), e por isso superdimensionou "o inimigo local", o gerente e dono do morro, que passaram assim, a serem "maiores" do que eram. Era preciso pescar sardinha, e falar que pescou tubarão.

A imprensa pelos motivos óbvios: sensacionalismo, e disseminar o pânico na classe média para reverberar preconceitos e chancelar o extermínio e a violência policial. Enquanto "gente de bem", dos degraus mais altos do jetset, banqueiros, comerciantes de artes, carros de luxo, advogados, etc, e todos os ramos ligados a lavagem de dinheiro passavam longe das páginas policiais.

E a sociedade para corroborar suas escolhas políticas representadas nos seus governantes eleitos, que respondiam seus "anseios" combatendo a violência com mais e mais violência.

Assim, criamos o mito moderno do supervilão da favela.

No entanto, a prova disso, de que não há organização nas redes de varejo de drogas é a "guerra" que travam entre si para demarcar seus pontos de venda.

Essa etapa já foi superada há tempos pelas atividades que descrevemos como organizadas (jogo do bicho, maquininhas, transporte pirata e por último, as milícias), e que lhes permitem centrar fogo na sua atividade-fim, salvo os períodos de sucessão e de redivisão de territórios, provocados por morte/prisão dos "capo famiglias", como vemos há pouco tempo no Rio.

Sendo assim, é pouco provável que traficantes "gastem" tempo e dinheiro para atrair a atenção da polícia, a ira e a sede de sangue da classe média, o "apetite" do governo em demosntrar que "não tolera" afronta com repressão violenta, quando nada ou pouco tem a ganhar com tais ações terroristas.

A definição clássica de terrorismo é apropriada para definir os eventos: Uso de dano ou lesão a pessoas/patrimônio, sem que estejam relacionadas com os agressores, e sem resultado patrimonial ou qualquer ganho logístico(território, armas, etc), com intenção de disseminar pânico e desafiar a ordem estatal.

Traficantes do RJ, depois de vários anos, já demonstraram que raras vezes recorreram a tais métodos para "tocar suas empresas", muito embora sempre estivessem associados a outros ataques ocorridos.

Hoje, a política de UPPs é um importante agente regulador do mercado de drogas ilícitas no RJ. Se a venda cai, é verdade, também caiu o risco de invasão "inimiga", o que libera parte do "capital" empregado na compra de armas, e diminui a necessidade de mão-de-obra para "contenção".

Eu já me referi a esse fato há muito tempo, desde o início da implantação dessas Unidades de "Propaganda" Pacificadora, e dias desses um colunista do JB online concordou, e foi copiado por uma página eletrônica de um jornal local.

Mas voltemos a pergunta inicial: Quem lucra com o pânico?

Há quem sempre deseje desestabilizar secretários de segurança, fato corriqueiro em transição de governos, ainda que este tenha sido reeleito.

Mas há outros setores que lucram DEMAIS com a indústria de (in)segurança pública:

Os setores que vendem armas, carros e todo o tipo de material e serviços para órgãos públicos, que já estão de olho na recolocação de seus aliados em postos-chave, tendo em vista que o "grosso" dos contratos serão celebrados em 2011 e 2012, com vistas a Copa de 2014.

Por fim, não é demais lembrar: No PAN 2007, de acordo com investigações da CPI das milícias da ALERJ, essas "organizações" cresceram no entorno das instalações pan-olímpicas e nos seus corredores de transporte, e pelo jeito com que foram tratadas pelo então secretário de segurança (Marcelo Itagiba)que foi o deputado eleito em 2006 que, justamente, distribuiu sua votação nesses redutos e teve 18,6% dos votos concentrados em Rio das Pedras (ver Carta Capital, coluna Maurício Dias, dessa semana), esse fato não foi mera coincidência.

Como agora as milícias se transformaram em um estorvo, pode ser que os "argumentos" para forçar mudanças de "rumo", e incremento do "combate ao terror" tenham "se incendiado" novamente.

Afinal, quem mais lucraria com o pânico, senão quem o disseminasse para oferecer proteção?
Fonte: texto recebido por e-mail sem assinatura de autoria.

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