Lapinha da Serra - MG - Junho/2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

NOTA DE ESCLARECIMENTO DE MORADORES DE FAVELAS DE NITERÓI


Durante as chuvas no Estado do Rio de Janeiro, uma grande tragédia se abateu sobre a população que vive em favelas nas cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Logo em seguida, o governo do Estado responsabilizou a mudança climática e culpou as próprias vítimas, os moradores das áreas carentes, pela tragédia.
Nada mais sordido e agressivo do que ter que ouvir dos responsáveis pela administração e políticas públicas do Estado, que faturam com os royates de petróleo, que gerenciam o Estado capitalista, essa acusação. Obviamente, as autoridades governamentais já estão fazendo  da tragédia  uma grande oportunidade de negócio, a começar por fundamentar e impor a limpeza social, ou seja deletar os pobres, das áreas promissoras para a especulação financeira.

Estamos todos solidarios e empenhados com todo o movimento social em dar voz ao nosso povo e denunciar mais essa postura criminosa desse governo estadual. Nesse sentido, abaixo  reproduzimos a Nota de esclarecimento dos moradores de favelas de Niterói.


Comitê de Solidariedade à Luta do Povo Palestino RJ

Nota de esclarecimento
Nós, moradores de favelas de Niterói, fomos duramente atingidos por uma tragédia de grandes dimensões. Essa tragédia, mais do que resultado das chuvas, foi causada pela omissão do poder público.  A prefeitura de Niterói investe em obras milionárias para enfeitar a cidade e não faz as obras de infra-estrutura que poderiam salvar vidas.  As comunidades de Niterói estão abandonadas à sua própria sorte.
Enquanto isso, com a conivência do poder público, a especulação imobiliária depreda o meio ambiente, ocupa o solo urbano de modo desordenado e submete toda a população à sua ganância.
 Quando ainda escavamos a terra com nossas mãos para retirarmos os corpos das dezenas de mortos nos deslizamentos, ouvimos o prefeito Jorge Roberto Silveira, o secretário de obras Mocarzel, o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula colocarem em nossas costas a culpa pela tragédia. Estamos indignados, revoltados e recusamos essa culpa. Nossa dor está sendo usada para legitimar os projetos de remoção e retirar o nosso direito à cidade.
 Nós, favelados, somos parte da cidade e a construímos com nossas mãos e nosso suor. Não podemos ser culpados por sofrermos com décadas de abandono, por sermos vítimas da brutal desigualdade social brasileira e de um modelo urbano excludente. Os que nos culpam, justamente no momento em que mais precisamos de apoio e solidariedade, jamais souberam o que é perder sua casa, seus pertences, sua vida e sua história em situações como a que vivemos agora.
 Nossa indignação é ainda maior que nossa tristeza e, em respeito à nossa dor, exigimos o retratamento imediato das autoridades públicas.
Ao invés de declarações que culpam a chuva ou os mortos, queremos o compromisso com políticas públicas que nos respeitem como cidadãos e seres humanos.
 
Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói
Associação de Moradores do Morro do Estado
Associação de Moradores do Morro da Chácara
SINDSPREV/RJ
SEPE – Niterói
SINTUFF
DCE-UFF
Mandato do vereador Renatinho (PSOL)
Mandato do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL)
Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK)
Movimento Direito pra Quem
Coletivo do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares

Palavras minhas: espero que os leitores entendam que não tenho a intenção de espetacularizar essa tragédia como faz a grande mídia, mas sim, mostrar aqui as versões de quem realmente foi assolado pela tragédia. Sabemos que passado esse período, tudo será esquecido e os cidadãos serão obrigados à voltarem as suas vidas 'normais' - nunca mais as mesmas. Uma coisa é certa, dependeria da população se organizar na tentativa de cobrança das autoridades no sentido de evitar tais problemas, mas sabemos também que essa mesma população é impedida dessas ações quando é desprovida de educação e informação. Isso é estrategicamente delineado pelo poder público, quanto menos educação e informação, menores as chances de organização na busca de menor desigualdade socioeconômicas, culturais, políticas, espaciais e etc e etc.

Alecsandra Cunha
Geógrafa

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