Lapinha da Serra - MG - Junho/2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Conquista do Pão - Pedro Kropotkin

A humanidade andou bastante desde o tempo em que a pedra lascada lhe servia para fabricar a suas armas, para lutar desesperadamente pela existência. Esse período durou milhares e milhares de anos durante os quais o gênero humano acumulou tesouros incomensuráveis. Desbravou o solo, aterrou pântanos, devastou florestas, abriu estradas, edificou, construiu e raciocinou; arranjou utensílios complicados, arrancou à Natureza os seus arcanos, aprisionou o vapor. Hoje o homem civilizado já ao nascer encontra um capital imenso, acumulado pelos seus antepassados, com o qual, só com o trabalho, combinado com o alheio, obtém riquezas que deixam a perder de vista os sonhos orientais das Mil e uma Noites.
Parte do solo está pronto para colher o trabalho do lavrador inteligente e as sementes escolhidas, e enfeitar-se com colheitas deslumbrantes, mais do que o preciso para satisfazer todas as necessidades do homem, pelos meios conhecidos da agricultura.
No solo virgem dos prados da América, cem homens, munidos de máquinas valentes, produzem em poucos meses o trigo necessário para o sustento de dez mil pessoas durante um ano inteiro. Quando o homem quer multiplicar o seu rendimento, prepara o solo, da às plantações cuidados que lhes convém e obtém colheitas prodigiosas. E onde o selvagem tinha de ocupar cem quilômetros quadrados para sustentar a sua família, o civilizado cria com incomparavelmente menos trabalho e mais segurança, tudo quanto precisa para sustentar os seus na décima milésima parte desse espaço.
O clima já não é um obstáculo. Falta o sol? O homem substitui-o pelo calor artificial, enquanto não faz também a luz para ativar a vegetação. Com vidro e condutores d’água quente, recolhe num espaço determinado dez vezes maior produção do que dantes.
Os prodígios efetuados na indústria ainda são mais frisantes. Com esses seres inteligentes – as máquinas modernas – fruto de três ou quatro gerações de inventores, na maior parte desconhecidos, - cem homens produzem com que vestir dez mil homens no espaço de dois anos. Nas minas de carvão bem organizadas,
cem homens tiram cada ano com que aquecer dez mil famílias, sob um clima rigoroso. E viu-se já uma cidade maravilhosa surgir toda inteira em poucos meses no Campo de Marte, sem haver a menor interrupção nos trabalhos normais da nação francesa.
E se o trabalho dos nossos maiores não aproveita senão sobre tudo ao menor número, é todavia certo que a humanidade podia já permitir-se uma existência de riqueza e de luxo, só com os trabalhadores de ferro e de aço que possui.
Sim, sem dúvida, somos ricos, infinitamente mais ricos do que julgamos. Ricos pelo que já possuímos; ainda mais ricos pelo que podemos produzir com o material conhecido. Infinitamente mais ricos pelo que poderíamos retirar do solo, das manufaturas, da nossa ciência e do nosso saber técnico, se fossem aplicados
a procurar o bem estar de todos.

Trecho retirado do livro: "A Conquista do Pão de Pedro Kropotkin"

A partir deste texto introdutório, Kropotkin desenvolve uma linha de pensamento revolucionário, o livro foi escrito no final do séc. XIX em Paris, tendo seu prefácio escrito nada menos por Élisée Reclus. É uma leitura interessante e, no mínimo, avassaladora.

RECOMENDO ESSE LIVRO.

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